Por Vera Fernandes
“Há três anos quando Angélica me procurou dizendo que queria e precisava praticar exercícios, cheia de vontade, muito curiosa e por outro lado com um certo receio que eu não fosse abraçar a bronca, eu percebi que era um grande desafio. Mesmo assim, resolvi encarar”. É desta forma que a educadora física Rosi Dias relata o início de sua experiência no atendimento a Angélica, cuja história nós vamos contar agora.
A gerente comercial aposentada Angélica Regina Bueno tem de 58 anos e há três é atendida por Rosi Dias. Começou com pilates, e hoje faz o treino funcional. Mas o que tem de diferente nesta história? Bom, Angélica possui um histórico que inclui 30 anos de cigarro, 20 de diagnóstico de hipertensão, maus hábitos alimentares e sedentarismo durante boa parte da vida, e por aí vai. Com estes fatores de risco agindo em conjunto, ela acabou enfartando aos 42 anos de idade, o que resultou em cirurgias, hospitalizações, reintervenções cardíacas, complicações hospitalares e uma coleção de stents cardíacos (tubos minúsculos, expansíveis e em forma de malha, feitos de um metal como o aço inoxidável ou uma liga de cobalto, que são usados para devolver um ritmo próximo ao normal ao fluxo sanguíneo da artéria coronariana).
Você deve estar pensando que uma pessoa com um quadro destes não tem condições, de praticar exercícios físicos. Você, e inclusive boa parte dos cardiopatas, que muitas vezes se retraem e acabam se sentindo completos incapazes de tudo. Mas não se engane, nem tudo é como parece. Foi por orientação médica que Angélica resolveu fazer uma atividade física, e foi assim que ela chegou ao Estúdio Rosi Dias.
“Todas as complicações que tive foram muito difíceis de superar. Depois de uma das internações, onde foram colocados quatro stents, em 2010, ocasião em que os médicos diziam que eu não sairia viva, eu fui morar com uma irmã, já que eu não conseguia sequer tomar banho sozinha. Voltei para casa quatro anos depois”, relata Angélica. Segundo ela, além do médico, teve que buscar ajuda de uma profissional nutricionista, pois acabou aumentando muito de peso.
E foi esta nutricionista que indicou para Angélica a realização de atividade física. “Eu pesquisei muito sobre os cardiopatas e suas complicações depois que ela me procurou. Resolvemos então iniciar com Pilates de solo em grupo, que além de exercitar o corpo e a mente iria ajudar muito na questão da socialização”, conta Rosi.
Em um ano, grandes evoluções em condicionamento físico já haviam acontecido, conforme relata a educadora. Ela conta que houve melhora em respiração, equilíbrio, força e resistência. “E aí tivemos que parar por dois meses para a colocação de mais três stents cardíacos. No retorno, uma mudança precisava ser feita e ela passou a fazer então o treino funcional, com aulas personalizadas, uma vez que os cuidados tinham que ser redobrados, e isso também resultou em novas pesquisas, novo estilo de treino e novos desafios, e já dura dois anos”, explica Rosi.
Angélica conta que quando aceitou que tinha que desacelerar e cuidar de si com suas limitações, passou a ser mais feliz. “A atividade física mudou completamente minha vida. Hoje não me vejo sem, e o treino funcional é perfeito por que traz exercícios específicos de acordo com minha patologia” revela Angélica, lembrando que não pode, de jeito nenhum, fazer força.
Para Rosi, as conquistas de sua aluna foram um mérito só dela. “Pela sua dedicação, persistência, garra e muita força”, diz. A educadora confessa que às vezes sentia um “frio na barriga”, uma vez que treinar indivíduos com esse tipo de patologia é muita responsabilidade para o profissional. “Combinamos que 50% seria a minha parte e a outra metade a dela, que ganha, inclusive, tema de casa, com uma receita que inclui de 20 a 30 minutos de esteira intercalando com nossos treinos, cuidar da alimentação - com ajuda de um profissional da nutrição-, ir ao médico periodicamente e tomar os remédios nas horas certas, explica.
De outro lado, conforme Rosi, a contrapartida inclui o planejamento dos treinos com intensidade leve à moderada, sempre respeitando os limites dela, mas também proporcionando desafios, buscando melhor desempenho cardiorrespiratório e nas estruturas articulares e musculares, e sobretudo colocando a saúde antes da estética.
“A Angélica é muito dedicada e disciplinada, então não tivemos problemas para nos organizarmos, essa é a parte mais importante, fazer o tema de casa, entender e respeitar a patologia, dessa forma, fica mais fácil para aluno e professor. É maravilhoso poder fazer parte dessa evolução e saber que meu trabalho contribui para melhor qualidade de vida dela, ela acredita e confia muito em mim como profissional é meu dever retribuir utilizando do meu conhecimento”, avalia a educadora.
Nesta entrevista com Angélica, não resisti aos clichês e questionei o que ela não faria se pudesse recomeçar a sua vida. “Eu jamais colocaria um cigarro na boca não teria tido a péssima educação alimentar que tive”, me respondeu. Emendei então a última questão: O que faria, se pudesse começar de novo? “Hoje reconheço o que deveria ter feito, e entre as coisas principais está ter hábitos saudáveis, em alimentação e sobretudo em atividade física. Eu poderia não estar mais aqui, mas tive outra chance. Por isso sou grata a Deus, por esta nova oportunidade. E não vou desperdiçá-la. Hoje sou mais feliz, minha autoestima mudou, vejo o mundo diferente e isto é muito bom”, finaliza Angélica.
A grande maioria dos cardiopatas só descobre que precisa se cuidar, em geral, depois de enfartar. Mas isso não é o mais assustador. Outra grande maioria, mesmo depois de já diagnosticado cardiopata, desconhece os alimentos que lhes fazem bem. Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo apontou a falta de conhecimento de pacientes cardíacos sobre alimentos que fazem bem ao coração. O estudo foi feito com cardiopatas do hospital estadual Dante Pazzanese, referência em tratamento cardíaco na capital paulista. A matéria foi publicada no Portal Terra.
No questionário, cerca de 50 doentes em tratamento afirmaram conhecer apenas um dos 17 alimentos mais recomendados para o cuidado cardíaco, e mais, desconheciam os benefícios da maioria deles.
Outro dado levantado pelo estudo foi que os pacientes não sabem qual a quantidade diária recomendada de cada alimento. Segundo o levantamento, os alimentos mais consumidos pelos pacientes dentro das quantidades recomendadas são o azeite (87,23%), o alho (82,98%), a linhaça (76,60%), os produtos integrais (72,34%) e a aveia (70,21%).
A orientação da equipe de nutricionistas do Dante Pazzanese indica, na dieta ideal para o cardíaco, o uso de alimentos como: linhaça, peixes, chá verde, chocolate amargo, azeite, alho, abacate, aveia, soja, cereais e produtos integrais, óleos vegetais, iogurte, tomate, vinho, suco de uva e margarina com componente que diminui o colesterol ruim.
Os alimentos cardioprotetores são compostos bioativos que agem na diminuição da pressão arterial, do colesterol ruim, triglicérides e controle do peso. Também contribuem na melhora do colesterol bom e a diminuição da agregação plaquetária, que é responsável por controlar a boa circulação sanguínea para evitar coágulos e derrames.
A matéria completa sobre a pesquisa você acessa em https://is.gd/yOuYRZ
A médica generalista Carolina Rossatto Ribas topou fazer um estudo de caso sobre Angélica. Este artigo completo você encontra - e deve buscar, pois é rico em informações -, aqui mesmo no site do Estúdio Rosi Dias Mat Pilates e Treinamento Funcional (www.rosidias.com.br)
Antes de entrar na questão das cardiopatias, a médica destaca os vilões do sistema cardiovascular, como a hipertensão, sedentarismo, dieta rica em industrializados, tabagismo, entre outros, não só no caso de Angélica, mas de qualquer pessoa. “Percebo que quando atendo pacientes com estes fatores de risco e outros importantes, como obesidade e diabetes, existe uma resistência muito grande a respeito de mudanças nos hábitos de vida”, revela. Estas mudanças básicas, segundo ela, seriam especificamente os cuidados alimentares e exercícios físicos.
“É comum eu ouvir: - Nem adianta que eu sou de outro tempo doutora, em que refeição da noite tem que ter carne gorda, feijão, arroz, massa e salada de batata”, revela a médica, destacando que consegue imaginar o quanto é difícil para esta pessoa ouvir que deveria diminuir carboidratos e optar por folhas verdes e carnes brancas. “Então não começo dizendo isso. Proponho sempre acompanhamento com profissional da Nutrição e pelo menos uma tentativa de mudança, pois não podemos dar por derrotada uma proposta antes mesmo de implementá-la, o mínimo que seja”, revela.
Além de investirem na dieta, a outra orientação é suar a camisa. Segundo Carolina, o aperfeiçoamento da capacidade cardiopulmonar para resistir às atividades propostas pelo exercício aeróbio – entre eles o treinamento funcional, que é a atividade realizada por Angélica -, é extremamente benéfico para pacientes com cardiopatias isquêmicas, aquelas doenças que têm como principal fator a obstrução ao fluxo de sangue nos vasos do coração, causando angina, infarto e outras patologias; e atualmente com indicação também para outra gama de variedades de acometimento cardíaco (não isquêmico).
“O sedentarismo e o hábito de fumar estão fortemente associados a disfunções de triglicerídeos e colesterol, gerando acúmulo de gorduras maléficas, que formam placas dentro dos vasos sanguíneos. Para fumantes, sedentários, diabéticos, hipertensos, etilistas, pessoas que estão acima do peso ou apresentando exames alterados, como elevação de triglicerídeos e baixo valor de colesterol HDL, mas que ainda não tiveram infarto ou AVC e desejam prevenir, a recomendação é começar logo a atividade física”, alerta a médica. Isso ajuda, segundo ela, a evitar que se venha a sofrer estas e outras complicações graves.
A prática diária de 30 a 60 minutos de atividade aeróbia moderada a intensa, segundo Carolina, é comprovadamente eficaz para reduzir danos e diminuir risco cardíaco e vascular cerebral, por melhorar a perfusão sanguínea dos órgãos, pois o sangue passa a circular mais e de maneira mais eficaz, em termos práticos, explica.
Conforme Carolina, é considerado fisicamente ativo quem tem um nível de atividade igual ou maior que 150 minutos semanais, o equivalente a pelo menos 5 dias de 30 minutos, com intensidade moderada, ou atividade intensa no mínimo três vezes por semana.
O que não se pode esquecer de fazer antes de iniciar as atividades é uma consulta com um cardiologista ou médico clínico. “É importante uma supervisão, e de maneira saudável, com acompanhamento da evolução de exames e do ganho em saúde. Além disso, precisa ter ainda um profissional qualificado para acompanhar as atividades físicas. Sabemos que as academias, na sua imensa maioria, não podem ou não se dispõem a receber clientes com problemas cardiovasculares pelo despreparo para lidar com eles. Então é preciso tomar um certo cuidado”, diz a médica.
No caso de Angélica, o treinamento é feito com acompanhamento integral da educadora Rosi Dias, que pesquisou muito sobre a cardiopatia para poder realizar o atendimento da forma mais apropriada para o seu caso, que inclui experiências de complicações, e de recuperação, pelas quais milhares de pessoas passam diariamente.
Há três anos, Angélica treina com Rosi, entre pilates e treinamento funcional, com evolução e considerável melhora na qualidade de vida e disposição, e segundo relatos da própria Angélica, com diminuição da intensidade e frequência dos sintomas relacionados à doença cardíaca.
Estudos provam, segundo Carolina, que a prática de atividade física regular é considerada a intervenção com a melhor evidência científica para controle de doenças do aparelho circulatório. “Então Angélica está bem orientada, já que mesmo após os infartos, não age como uma pessoa debilitada e incapaz. Pelo contrário, busca melhorar sua função cardíaca e “suar a camisa” na intensidade que é adequada à sua condição. O problema é achar que tem que ficar em repouso, estagnar para sempre, em casa, como muitos procedem. A prevenção ou a mobilização após um evento destes é fundamental, pois estas doenças acarretam incapacidades e diminuição da qualidade de vida por envolverem longas hospitalizações e, muitas vezes, deficiências posteriores”, diz.
A médica deixa também um recado. “Mesmo quem ainda não faz atividades físicas com um profissional, já pode começar hoje a aderir a um estilo de vida mais ativo, trocando suas rotinas e começando, por exemplo, a usar escadas, evitar o uso de transporte, preferir caminhadas, exercitar-se mais durante o período de trabalho e escolher atividades com alto gasto energético nos períodos de lazer para melhorar o condicionamento físico. Quem tem pressão alta, está acima do peso, tem diabetes, fuma, ou está há muito tempo parado, ou que já tem doença cardíaca instalada, procure o seu médico e um bom profissional educador físico ou fisioterapeuta. Já para aquele que é jovem e saudável, mas está bem paradinho na vida, a dica é aperfeiçoar esta saúde. Te cuida e inicia já!! Estar exercitante é o foco na promoção da saúde!”, finaliza.