Por Vera Fernandes
Você consegue imaginar uma mulher com câncer de mama - que faz periodicamente sessões de quimioterapia, que já não tem mais cabelos e que está prestes a realizar a cirurgia que vai lhe tirar a mama -, dizendo, entre sorrisos: - Não fosse pelo frio na careca, eu até esqueceria que tenho câncer!?
Pois ela existe, e é aquele tipo de pessoa que quando você conversa um pouquinho, já fica pensando que problemas, são relativos, e o tamanho deles, é o tamanho que damos a eles.
Regina Lazzaretti Manique da Silva tem 56 anos, é professora aposentada, e hoje trabalha fazendo tortas e docinhos por encomenda. Ela teve diagnóstico de câncer de mama em 13 de fevereiro deste ano (2016).
Um diagnóstico pelo qual ninguém quer passar. Uma doença complexa, e cujos reflexos não se dão apenas no campo físico, mas, e bem profundamente, nos campos mental e emocional dos pacientes.
Conforme Regina, a biopsia apontou carcinoma invasivo de mama (ductal infiltrante) do tipo não especial. Na amostra, a lesão exibe grau 2 de Nottingham. Ela chegou ao resultado depois de uma visita de rotina ao médico, que solicitou os exames.
Bastante otimista e com um sorriso que não sai do rosto, Regina conta que, antes do diagnóstico do câncer, realizava algumas caminhadas esporádicas, mas nenhuma atividade física constante.
Alguns hábitos mudaram mesmo, depois do diagnóstico, segundo ela, principalmente na alimentação. “Sempre gostei muito de doce, e agora evito comer. Procuro evitar alimentos com muitos produtos químicos. Ao invés disso, prefiro uma alimentação natural e orgânica”, explica.
Outra mudança destacada por Regina foi a postura frente às dificuldades corriqueiras. “Muitos problemas tornaram-se insignificantes e sem importância. Penso que é preciso valorizar tudo que nos rodeia, todas as vivências, experiências. É uma ressignificação da vida”.
Quanto ao trabalho, ela afirma que segue realizando todas as atividades que fazia anteriormente. O lazer também se manteve na sua rotina diária. “Continuo participando de todas as atividades que tinha antes do câncer: almoço com a família, jantar fora, participar de comemorações com a família e amigos, faço compras. Não tenho limitações para qualquer atividade”, afirma, categórica.
Quem lembra da cena emocionante da novela Laços de Família, onde a atriz Carolina Dieckmann, a Camila, cortava os cabelos depois do diagnóstico do câncer, e chorava copiosamente, imagina que toda perda deve ser dolorosa. Cabelos não, pelo menos para Regina. Após 15 dias da primeira quimioterapia, ela conta que seus cabelos começaram a cair, então resolveu cortar, raspando a cabeça. “Foi muito tranquilo, porque já estava preparada para isto. A cabeça raspada é um símbolo da luta pela vida”, conta.
E como Regina chegou no Pilates
Diagnosticada com câncer, numa análise cultural, seria o caso de parar com tudo, descanso total, até a cura, certo? Errado. Nem sempre esperar a vida passar é o melhor remédio. E dependendo da situação, este não é, definitivamente, remédio para coisa alguma.
Regina conta que desde o ano passado tinha vontade de praticar Pilates, mas a falta de tempo não permitia. E se muita coisa se manteve como antes em sua rotina, o sedentarismo foi uma das que se inseriu naquela pequena parte que teve mudanças profundas.
No novo cenário que se apresentou em sua vida, Regina precisava optar por um exercício físico, ainda que inicialmente havia pensado que não poderia realizar as atividades em função das reações da quimioterapia. Como não apresentou efeitos negativos, Regina optou pelo Pilates. “É uma atividade sem impacto, que favorece um autoconhecimento corporal, priorizando uma concentração na realização dos movimentos. Com isso, sinto um melhor condicionamento físico, um bem-estar geral. Percebo que, apesar de estar participando há poucos meses das aulas, já progredi na flexibilidade corporal e na resistência muscular”, relata.
Partindo para o desafio
O relato da educadora física Rosi Dias, que conta a evolução de Regina desde que a recebeu em seu estúdio de Pilates e Treino Funcional, em Novo Hamburgo/RS, é repleto de orgulho. “Há quatro meses nos conhecemos, Regina veio ao meu encontro por dois motivos: recomendação médica e indicação da Rejane, sua irmã, que é minha aluna há seis anos.”
Depois de uma aula experimental e um período de avaliação reciproca entre aluna e professora, decidiram então encarar o desafio. “Logo me chamou a atenção como alguém com câncer de mama fazendo quimioterapia conseguiria executar movimentos de força e resistência. Também pensei no tamanho do desafio que seria para Regina, com o corpo ainda frágil, sem consciência corporal e respiração ofegante, os músculos e as articulações precisando de movimentos para não atrofiar, seu corpo num todo precisava melhorar”, conta Rosi.
A força de vontade, a persistência e a disciplina foram fundamentais para Regina chegar onde está hoje, segundo a educadora. “Ela só falta as aulas quando faz as sessões de quimioterapia. Tem muita força de vontade. Não demorou muito para evoluir, o importante é que combinamos de ir até o seu limite, respeitando seu corpo, e deu muito certo, em pouco tempo ela vem mostrando suas evoluções, como: a respiração, o corpo mais inteligente, melhorou a postura e já está mais forte também”, comemora.
Como profissional da área da saúde, Rosi revela que acompanhar a evolução de Regina é um imenso prazer. “Trabalhar com indivíduos saudáveis é muito fácil. Ter indivíduos que apresentam patologias é totalmente diferente, precisa de conhecimento em relação à patologia para poder prescrever e administrar os treinos. E saber que com meu trabalho posso contribuir, mesmo que seja uma pequena parte, é gratificante. A socialização também contribui muito nesse processo, ela sai da rotina, conhece pessoas e histórias diferentes, e isso tudo, levando uma vida normal.
Regina faz aula de Pilates de solo duas vezes na semana em grupo com mais quatro pessoas. Ela realiza exercícios de força, resistência, equilíbrio, flexibilidade e respiração, em aulas que exigem muito do corpo e da mente, uma vez que para executar os movimentos é preciso conectar corpo e mente. “Fazer isso tudo, com sorriso nos lábios, bom, isso é coisa da Regina mesmo. O maior presente para mim é ver que ela está sempre sorrindo, de bom humor, e feliz”, diz Rosi, finalizando com uma frase de Joseph Pilates, criador do método, onde ele diz: “Seu corpo é o maior bem, ele guarda e reflete sua alma, cuide dele como se fosse uma pedra preciosa e nós lapidaremos”.
A gratidão
As pessoas que passam por uma patologia complexa como é o câncer, sabem o valor da gratidão àqueles que foram importantes neste processo. Regina tem uma lista grande a agradecer. Ela começa salientando a competência dos profissionais da saúde que a atenderam ou ainda estão atendendo.
“Todos muito competentes, seguros em suas ações e dedicados. A todos sou muito grata. Meu ginecologista, Dr. Paulo Luiz Rech, que solicitou uma mamografia e uma ecografia mamária, assim que fui consultar, ao constatar o nódulo. A partir do resultado, imediatamente me encaminhou a mastologista Dra. Gabriela Rosali dos Santos, que solicitou uma biópsia e outros exames para identificar possíveis extensões do câncer: raio x do tórax, ecografia abdominal, cintilografia óssea, ecocardiograma e alguns exames de sangue. A partir do resultado da biópsia que constatou o tipo de câncer, ela solicitou um exame imuno-histoquimica do material da biópsia. A partir deste resultado, me encaminhou ao oncologisra Dr. Andrey Manfro para iniciar o tratamento. A toda equipe do Centro de Tratamento Oncológico que atualmente me atende com dedicação, atenção e profissionalismo, sempre esclarecendo minhas dúvidas e indagações. À psicóloga Berlize Anschau que está me dando o amparo emocional nesta hora tão difícil, oferecendo um suporte muito importante para um melhor enfrentamento da doença”.
E é com o mesmo sorriso, que lhe é peculiar, que Regina completa: “Sempre fui muito positiva e tenho muita fé. Acredito que tudo que nos acontece serve para aprendermos algo e nos tornar melhor e mais forte. O que me fortalece e ampara também é o apoio da família, dos amigos e de todos que estão juntos nesta luta. Cada palavra de incentivo me fortalece e me faz ter uma postura positiva frente a doença.”
Pilates e o câncer de mama
O auxílio do Pilates como preventivo e redutor das complicações causadas pela quimioterapia, radioterapia e cirurgia foi citado em uma matéria da Revista Pilates em abril de 2015.
Na reportagem, a revista divulga uma pesquisa feita com pacientes de câncer de mama praticantes do Pilates. Segundo o texto, os resultados desta prática nos pacientes são sentidos logo nas primeiras sessões. A matéria cita uma pesquisa publicada em dezembro de 2010 pelo jornal europeu de medicina o “European Journal of Medicine de Reabilitação Física”, que dividiu dois grupos, de 26 pacientes cada, sendo que um dos grupos realizou exercícios associados com Pilates, enquanto o outro realizou apenas exercícios.
O grupo que realizou o Pilates demonstrou melhora na capacidade funcional e fadiga, o que deu um salto maior para a recuperação pós-cirúrgica do câncer de mama. A prática também ajudou a restabelecer os movimentos e a recuperar a força no braço e no ombro, auxiliando também na diminuição da dor e da rigidez nas costas e pescoço e na recuperação física do paciente.
Leia a matéria completa da Revista Pilates no link: https://is.gd/aAxDY3
O exercício como preventivo do câncer
Em maio de 2016, o site Eu Atleta, do Portal G1 divulgou uma pesquisa que foi considerada a maior análise já feita até hoje sobre a relação entre exercícios físicos e o câncer. Segundo a reportagem, metade dos voluntários pesquisados afirmaram que, no último ano, se exercitaram em uma quantidade igual ou maior que 150 minutos por semana e a outra metade menos. A saúde deles foi monitorada durante 7 a 28 anos.
Os resultados indicaram, conforme a matéria, que os indivíduos que mais se exercitaram apresentaram um percentual menor de diversos tipos de câncer como o esofágico, fígado, pulmão, cólon, mama entre outros. Foi relatada uma diminuição de risco de desenvolvimento de câncer de 7% para os indivíduos que praticavam atividade física regularmente.
Outros aspectos também foram apontados pelos pesquisadores, para quem pratica, três vezes por semana, 50 minutos de exercícios, como o equilíbrio de hormônios, cujo desequilíbrio pode causar tumores como o estrógeno no câncer de mama por exemplo; o controle de fatores pró-inflamatórios que poderiam estimular um processo inflamatório crônico que favorece o desenvolvimento tumoral; e a regulação da insulina, evitando assim sua resistência que está associada com diversas condições clínicas não benéficas.
Veja a matéria completa do site Eu Atleta https://is.gd/wqnW0v